A TUTELA JURÍDICA DO TEMPO DO CONSUMIDOR E SEUS DESAFIOS

Perspectivas de equacionamento a partir de uma análise de decisões do TJ-RS no ano de 2024

Autores

  • Maitê Caurio Felker UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
  • Arthur Brizzi UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
  • Daniela Richter UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DOI:

https://doi.org/10.22171/rejunesp.v29i49.4704

Palavras-chave:

Boa-fé objetiva, Desvio produtivo do consumidor, Mero aborrecimento, Responsabilidade civil, Tutela jurídica do tempo

Resumo

A responsabilidade civil sofreu uma redefinição de seus paradigmas, passando-se a discutir a possibilidade de tutela jurídica do tempo do consumidor. Embora a tese conte com grande aceitação doutrinária, ainda remanesce, no âmbito jurisprudencial, uma tensão entre o “mero aborrecimento” e as compensações pleiteadas. Assim, o presente trabalho partiu de uma análise dos acórdãos do TJ-RS no ano de 2024 com menção às expressões “desvio produtivo” e “consumidor”, a fim de compreender esses desafios. A partir disso, questionam-se: quais são as perspectivas e as possibilidades de equacionamento desses desafios? Utilizou-se o método de abordagem dialético, partindo da dialeticidade entre tempo e direito, perpassando a análise jurisprudencial, até chegar à discussão central. Empregaram-se os métodos de procedimento histórico e comparativo e as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. O trabalho foi dividido em três seções. Inicialmente, apresenta-se uma contextualização a respeito da tutela jurídica do tempo. Na sequência, apresentam-se os dados da análise jurisprudencial. Ao final, discutem-se as perspectivas de equacionamento dos desafios. Concluiu-se que é preciso repensar o eixo de análise da responsabilização civil, de modo a incluir a análise da desídia do fornecedor, à luz da boa-fé objetiva e de seus deveres anexos, a fim de mitigar as dificuldades probatórias. Além disso, apontou-se a relevância de ampliação da tutela jurídica do tempo para outras áreas, viabilizando possíveis diálogos de fontes. Por fim, mencionaram-se a administrativização da tutela do tempo do consumidor e o processo coletivo, inclusive por meio de decisões estruturais, como forma de evitar a hiperjudicialização.

 

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Biografia do Autor

Maitê Caurio Felker, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

Mestra em Direito pela Universidad de Granada (UGR). Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bolsista CNPq. Bacharela em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Advogada.

Arthur Brizzi, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

Mestre em Direito pela Universidad de Granada (UGR). Mestrando em Direito na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Advogado.

Daniela Richter, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestra em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul. Professora adjunta do Departamento do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria e do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFSM (Mestrado). 

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Publicado

2025-06-06

Como Citar

CAURIO FELKER, M.; BRIZZI, A.; RICHTER, D. A TUTELA JURÍDICA DO TEMPO DO CONSUMIDOR E SEUS DESAFIOS: Perspectivas de equacionamento a partir de uma análise de decisões do TJ-RS no ano de 2024. Revista de Estudos Jurídicos UNESP, Franca, v. 29, n. 49, p. 139–158, 2025. DOI: 10.22171/rejunesp.v29i49.4704. Disponível em: https://ojs.franca.unesp.br/index.php/estudosjuridicosunesp/article/view/4704. Acesso em: 14 jun. 2025.

Edição

Seção

Cidadania Social e Econômica e Sistemas Normativos